Auditores Fiscais Federais Agropecuários do Ministério da Agricultura e Pecuária participaram na última semana de uma ação complexa e extremamente nobre em prol da reintrodução da ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) na fauna brasileira.
A espécie que é originária e exclusiva do Brasil, especificamente da região de Curaçá e Juazeiro, no norte do estado da Bahia, faz parte de um Plano de Conservação da espécie, coordenado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP), organização sem fins lucrativos sediada na Alemanha, que atua como criadouro particular de espécies exóticas.
Na ação de terça-feira (28), foram recepcionadas 41 ararinhas-azuis num esquema que mobilizou diversos órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão), a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro), além de contar com o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF), da Polícia Federal (PF), da Receita Federal Brasileira (RFB) e da CCR-Aeroportos.
Atuação Multissetorial
Relativamente à atuação do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), o processo de importação foi iniciado em meados de outubro de 2024, por meio do Requerimento de Importação enviado ao Serviço de Inspeção e Saúde Animal (Sisa-PE) e recepcionado pela chefe do Serviço, a Auditora Agropecuária Marta Pedrosa Maior.
Ela conta que esse documento é imprescindível pois contém todas as observações referentes ao cumprimento de requisitos sanitários tanto relacionados a potenciais doenças das aves, quanto a alguma restrição sanitária do país de procedência delas, e objetiva prevenir a introdução, disseminação e estabelecimento de pragas e enfermidades no Brasil.
“Após essa etapa, solicitamos informações sobre o local de quarentena dessas aves já que ele também tem de ser inspecionado pelo Serviço Veterinário Oficial (SVO). Essa atividade foi realizada pelos colegas Angélica Liberalino, Jamile Cordeiro e João Batista Filho, do Órgão Estadual de Saúde Animal (Oesa), no caso a Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária do Estado de Pernambuco (Adagro)”, informou a Affa.
Certificadas as condições documentais e de alojamento das ararinhas, Marta conta que foi iniciada uma série de reuniões entre representantes do Sisa, do Serviço de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro) e da Coordenação Geral de Trânsito, Quarentena e Certificação Animal (CQTQA). Isso porque o voo que traria os animais sairia da Alemanha, país com restrições sanitárias relacionadas à Febre Aftosa e Peste Suína Africana, doenças exóticas no Brasil. “Nesse momento, nomes como Bruno Cotta, Flávia Mattos, Eleonora Moraes, Washington Luiz Júnior, Cleverson Freitas, Alexandre Campos e José Marcelo Maziero foram fundamentais para que pudéssemos concretizar a recepção correta e adequada dessas aves.”
Antes do ingresso das aves no Brasil, os Affas do Vigiagro Eleonora Moraes e Washington Luiz Júnior contaram com o apoio do Agente de Atividades Agropecuárias Enoque Príncipe para a realização da inspeção sanitária das aves e das bagagens dos 11 passageiros e tripulantes da aeronave, o que incluiu a destruição de resíduos do serviço de bordo e de produtos proibidos nos pertences dos passageiros, tudo com foco na prevenção de entrada de possíveis pragas e enfermidades no país.
Apesar de complexa e desafiadora, a operação foi um sucesso e as 41 ararinhas já se encontram no local de quarentena, onde ficarão de 21 a 28 dias e realizarão a coleta de material para exames de detecção de doenças como a Influenza Aviária (IA) e Doença de NewCastle (DNC).
“Confirmando que elas estejam livres de patógenos, as aves serão autorizadas a entrar definitivamente em território nacional e serão transportadas para o Refúgio de Vida Silvestre da ararinha-azul, em Curaçá, na Bahia, sob responsabilidade da a BlueSky Caatinga que é uma organização privada de reflorestamento e geração de renda sustentável através de Crédito de Carbono”, informou o Affa Washington Luis Júnior do Vigiagro do Vale do São Francisco (Vigi-vale-PE).
O Projeto
De acordo com Ugo Vercillo, diretor da BlueSky, a ararinha-azul é um animal ameaçado devido ao tráfico de animais. O último indivíduo selvagem desapareceu em outubro de 2000. Contudo, o trabalho de reintrodução delas na fauna brasileira tem sido muito bem sucedido.
O grupo de 41 ararinhas que chegou no último dia 28 já é o segundo enviado pela Association for the Conservation of Threatened Parrots (ACTP). Em março de 2020, 52 aves chegaram ao centro e, em 2022, ocorreram as primeiras solturas. Desse grupo, 20 foram soltas na natureza e o restante está em cativeiro para reprodução. “As aves se adaptaram bem à caatinga e tivemos 11 filhotes nascidos em cativeiro e 7 em vida livre. Todos os animais reintroduzidos são rastreados por rádio colar e as aves são monitoradas ao longo de todo dia durante todos os dias do ano. Tivemos algumas perdas de animais por predação, mas isso está dentro do esperado”, comemorou o diretor.
Do grupo recém chegado, Vercillo explica que também haverá uma avaliação sobre quais aves estarão aptas à soltura e que esse processo deve acontecer em junho de 2025. Para ele, o Projeto superou as metas de conservação esperadas, como a taxa de sobrevivência ao longo do primeiro ano e surpreendeu principalmente pelo resultado de filhotes nascidos.
“Tivemos um retardo na reintrodução de novos grupos em 2023 e 2024, mas com a chegada desse novo grupo, esperamos ter resolvido esse ponto. Agora é fazer uma boa preparação e esperar a resposta da natureza! Se novos casais forem formados, as chances de sucesso crescem significativamente”, finalizou.
Confira abaixo algumas fotos do transporte das 41 ararinhas, ocorrido na semana passada.
Foto de capa: ACTP-GZRRC-BlueSky
Galeria de fotos: Affa Washington Luiz, Vigi-vale-PE