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Na mídia: Pragas olímpicas

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De acordo com estudo, o trânsito de milhares de estrangeiros para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro eleva o índice de ameaça fitossanitária no país.

 

Por Carlos Guimarães Filho

Os milhares de estrangeiros que desembarcam, desde o mês passado, no Rio de Janeiro para os Jogos Olímpicos podem significar uma ameaça ao agronegócio brasileiro. Além de roupas, calçados e utensílios pessoais, esses viajantes correm o risco de trazer na bagagem, de forma involuntária, centenas de ameaças fitossanitárias as lavouras nacionais. 

De acordo com o estudo “Olimpíadas das Pragas – Levantamento de pragas quarentenárias associadas a frutos, grãos e solos”, desenvolvido pela consultoria Oxya Agro e Biociências, ao abrir as portas aos estrangeiros por conta do maior evento
esportivo do mundo, o Brasil se expõe a centenas de eventuais pragas exóticas. Na definição técnica, praga quarentenária é todo organismo de natureza animal e/ou vegetal, que estando presente em outros países ou regiões, mesmo sob controle permanente, constitui ameaça à economia agrícola do país. 

“A maior parte das pragas que hoje causa perdas expressivas no Brasil veio de outras partes do mundo (Bicudo-do-algodoeiro, ferrugem-asiática-da-soja, helicoverpa, Ceratitis capitata e mosca-branca). Poucos indivíduos entram, passam por um processo de adaptação que pode demorar anos ou décadas e, ao encontrar situações favoráveis, como plantas hospedeiras e clima, a população, em algum momento, estoura”, explica Regina Sugayama, pesquisadora, diretora da Oxya Agro e Biociências e coordenadora do estudo.

Eventos de grande porte do passado comprovam o risco fitossanitário elevado que o Brasil está correndo. Na China, em 2008, mais de 50 espécies exóticas foram encontradas após o término dos Jogos Olímpicos. Em 2014, após a Copa do Mundo,
seis novas pragas foram detectadas por aqui.

Para minimizar o risco da entrada destas espécies exóticas, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reforçou as barreiras sanitárias em aeroportos, portos, rodovias e fronteiras. A principal ação dos fiscais agropecuários ocorre nos terminais dos aeroportos, principal porta de entrada dos atletas e turistas. Por amostragem, passageiros que desembarcam no Brasil são abordados para revista. Caso seja detectado materiais impróprios, como frutas ou outro tipo de alimentos, estes são apreendidos. Em função do grande fluxo neste mês, o Mapa colocou cachorros treinados para farejar possíveis materiais biológicos nos aeroportos. 

Quando o animal identifica algum cheiro na bagagem, automaticamente a pessoa é convocada para revista. Além de alimentos, as pragas podem estar presentes no solo em bagagem, produtos vegetais, calçados e até pneus de automóveis.
“Embora existam avisos nos aeroportos de que frutas e sementes e demais produtos de origem vegetal não são permitidos, é comum as pessoas carregarem pera, maçã ou sementes na bolsa. Quando identificado, esse produto é recolhido e incinerado, pois pode estar transportando algum patógeno”, explica Jorge de Souza, gerente técnico da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas). O setor de frutas é o mais suscetível as pragas estrangeiras (veja quadro na página 17). 

Em ocasiões anteriores, os fiscais agropecuários do Mapa já apreenderam alimentos com risco de pragas, como marmelo oriundo da Alemanha, manga de Camarões, banana do Haiti, fruta cítrica da Itália, grãos diversos com passageiro do Peru e frutos e grãos com restos de solo de Mali. O solo é uma das principais vias de ingresso de pragas. 

Para a diretora da Oxya, a fiscalização intensa, não só durante grandes eventos no país, é necessária para minimizar os efeitos na agricultura nacional, um dos principais motores da economia brasileira. “Os impactos imediatos são o aumento no custo de produção e aumento das perdas diretas. Além disso, há risco de perder mercados internacionais. Perde também a sociedade, ao ter que pagar mais caro por alimentos. Afinal, se o produtor gasta mais para produzir, esse custo adicional é repassado. Perde o meio ambiente, pois as espécies exóticas podem competir com as nativas e afetar a população delas”, aponta.

Dimensão continental
Apesar de o Rio de Janeiro ser a sede oficial dos Jogos Olímpicos, algumas modalidades estão sendo disputadas em outras cidades. As partidas do futebol, tanto masculino como feminino, estão ocorrendo em Manaus, Salvador, Brasília, Belo Horizonte e São Paulo, além do Rio de Janeiro. No total, são 16 países disputando o título masculino, enquanto 12 seleções competem no torneio feminino.

Esse deslocamento das delegações, e consequentemente dos torcedores e turistas que acompanham os jogos, aumenta consideravelmente o risco de disseminação das pragas. “Muitas delegações trazem alimentos especiais para os atletas. Tudo isso é fiscalizado”, explica Aral Saldanha de Aquino, médico-veterinário e fiscal federal agropecuário do Mapa, que trabalha há 10 anos no aeroporto Afonso Pena.

Ainda, como o Brasil tem diversos pontos turísticos, que estão sendo visitados pelos estrangeiros, as probabilidades de pragas ampliam. “O trânsito intenso ajuda a ampliar esse problema. Por isso, a fiscalização precisa ocorrer em todos os aeroportos, não só no Rio de Janeiro”, ressalta Souza. O gerente técnico da Abrafrutas reforça também a necessidade de uma comunicação eficiente quanto a proibição da entrada de alimentos no país. “Impossível fiscalizar 100% das pessoas. O
segredo é uma comunicação efetiva, pois o tema é muito sério e pode incrementar a disseminação de pragas, não só no Brasil, mas no mundo”, diz. “Se a praga se adaptar as condições climáticas do Brasil, por si só se espalha. As pessoas transitando para lá e para cá colaboram com o processo”, complementa.

Paraná
No Paraná, principalmente pela importância da agricultura na economia estadual, o sinal de alerta está ligado. A expectativa é de que muitas cidades paranaenses com viés turístico, principalmente Foz do Iguaçu por conta das famosas Cataratas, recebam milhares de turistas e atletas, durante e após as Olimpíadas. Por conta disso, a fiscalização no Estado foi redobrada. O sistema utilizado é semelhante ao da Copa do Mundo de 2014, quando Curitiba recebeu quatro jogos e, consequentemente, milhares de torcedores. 

“Na Copa, o fluxo foi mais intenso. De qualquer forma, como sabemos que muitos turistas estão transitando, fica um alerta especial”, diz Aquino. No Estado, caso algum alimento seja identificado, será remetido a uma autoclave, aparelho para esterilização por meio do calor úmido sob pressão. “Não liberaram incineração aqui. Então, estamos utilizando a autoclave, espécie de panela de pressão que decompõem o alimento. Nenhum ser vivo sobrevive. Depois é levado para o lixão”, explica o fiscal federal agropecuário do Mapa. 

Lavouras ameaçadas
Segundo o estudo produzido pela consultoria Oxya, as culturas mais ameaçadas são, em ordem, pêssego e ameixa, maçã, pera, laranja, limão e tangerina, arroz, uva, soja, manga e banana. Esta lista tem como base a quantidade de pragas ausentes no Brasil, mas presentes nos países que participam das Olimpíadas. No pêssego e ameixa, 46 eventuais pragas externas foram identificadas, enquanto na maçã o número é de 41. O grande número de frutas na lista chama a atenção. A explicação está no fato destes alimentos serem mais sensíveis a interferência externa. “Frutas normalmente são vegetais mais propensos. 

Qualquer cidadão que vier para cá pode trazer um patógeno estranho”, explica Souza. Recentemente, o Brasil teve uma carga de limão recusada na Europa porque os frutos estavam com cancro cítrico, uma praga exótica. Há dois anos, o Chile fechou as portas para a manga brasileira por causa de infestação por Ceratitis capitata.

Soja
Principal produto de exportação do agronegócio brasileiro, a soja requer atenção especial por parte do Ministério da Agricultura e demais órgãos ligados a segurança alimentar. A oleaginosa não figura entre as principais lavouras ameaças por pragas estrangeiras, mas o fato de ser plantada de Norte a Sul e de Leste a Oeste do país exige cuidados especiais.  De acordo com o estudo da Oxya, ao menos 160 países que disputam as Olímpiadas apresentam pelo menos uma espécie de
praga quarentenária para a soja ausente no Brasil. A liderança da lista é ocupada pelos Estados Unidos, com 16 espécies, seguido pela China (15), África do Sul (15) e Austrália (15). 

“O desafio de proteger a cultura da soja contra novas pragas é imenso no Brasil. Além de estar presente do Amapá ao Rio Grande do Sul, ela é cultivada o ano todo. A adoção de boas práticas de manejo, começando pelo monitoramento é fundamental. O produtor precisa ir à lavoura ou ter pragueiros olhando as plantas. Fazer aplicação de calendário, além de jogar dinheiro fora, faz com que não se enxergue o problema”, ressalta Regina.

Vilões
Os Estados Unidos são quem mais oferecem ameaça à agricultura brasileira, de acordo com o estudo. O país abriga 289 pragas ausentes no Brasil. Na sequência aparece Itália, com 205 pragas, Índia, 188, China e França, com 180, e Japão com 175 (Veja a lista na página 17).

Metodologia

O estudo “Olimpíadas das Pragas – Levantamento de pragas quarentenárias associadas a frutos, grãos e solos” reúne informações sobre as espécies de pragas quarentenárias ausentes no Brasil, mas potencialmente associadas a bagagens de passageiros e solo. O trabalho considerou cerca de 600 espécies de 249 países. Para cada espécie de praga, o estudo considerou a instrução normativa que regulamenta status da praga, a distribuição geográfica, o círculo de hospedeiros e a associação com vias de ingresso (frutos, grãos e solo). Espécies encontradas no Brasil foram desconsideradas do estudo.

 

Fonte: Boletim Informativo – Sistema Faep

 

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