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Entrada da Peste Suína Africana na América acende preocupação no Brasil

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Brasil conta com o Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro), onde os Affas atuam no trabalho de gerenciamento de risco, controle e fiscalização para o combate de patógenos e doenças fitossanitárias

A descoberta, esta semana, da presença da Peste Suína Africana (PSA) em amostras coletadas de porcos na República Dominicana, anunciada pelo Laboratório de Diagnóstico de Doenças de Animais Estrangeiros do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), acendeu um sinal de alerta no Brasil. Afinal, o país, que é responsável pela produção de 4, 43 milhões de toneladas de carne suína, sendo 77% destinado ao mercado interno e 23% às exportações, segundo dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), está livre da doença desde 1984.

Para o professor associado de Doenças Infecciosas na Faculdade de Veterinária da Universidade de Brasília (UnB), Cristiano Barros de Melo, esse é um momento de muita cautela, uma vez que o país já sofreu prejuízos com a entrada da Peste Suína Africana em 1978, o que causou o sacrifício de milhares de suínos, além de perdas comerciais.

“O Brasil não pode receber um agente infeccioso desse porque seria catastrófico para as nossas exportações e o filme de 1978 não pode se repetir por aqui”, disse.

De acordo com o Auditor Fiscal Federal Agropecuário aposentado Carlos Alberto Magioli, os trabalhos de erradicação da doença nessa época custaram ao país cerca de US$ 20 milhões e a imediata intensificação da fiscalização de portos, aeroportos e agências de correios. “Acrescenta-se o impacto social imenso não somente para as produções comerciais, como também para o homem do campo que tinha na criação caseira de suínos sua fonte de alimento e de recursos financeiros”, disse.

Médico veterinário de formação, o Affa trabalhou no Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (Vigiagro). Para ele, esse trabalho é fundamental no combate à entrada de animais ou de produtos de origem animal que de alguma forma possam introduzir patógenos, principalmente exóticos, no território brasileiro. “O fruto deste trabalho dos colegas no Vigiagro está no reconhecimento internacional do Brasil como livre de peste suína africana, status que aumenta a responsabilidade nos controles nas barreiras sanitárias internacionais sejam marítimas, aéreas ou terrestres a manter o Brasil na dianteira da produção de alimentos no mundo”, lembra Magioli.

O reconhecimento do Affa tem respaldo no estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas), preparado a pedido do Anffa Sindical com intuito de analisar, no ano de 2020, durante a pandemia, qual foi o impacto direto e indireto das atividades do Affa para a economia do país e para a sociedade em geral. O documento de mais de 100 páginas (veja aqui), ressalta a exclusividade desse profissional na missão de mitigar o risco de entrada de patógenos provenientes de outros países a partir da emissão das autorizações de importação de qualquer produto de origem animal e vegetal. A concessão dessas autorizações é decidida a partir de uma análise de risco que leva em consideração diversos fatores, como tipo de produto importado, ocorrência de patógenos associados ao produto no país de origem e sua existência no país de destino.

Ao listar as doenças que integram o monitoramento constante da SDA (Secretaria de Defesa Agropecuária) com o risco de ocorrência de problemas relacionados à sanidade animal e vegetal, o estudo destacou a PSA por considerá-la uma doença altamente contagiosa e que tem deixado o mundo em alerta após a identificação do vírus na China, em 2018. O estudo da FGV fez referências à Embrapa Suínos e Aves, que estimou os custos para o Brasil caso a doença volte ao país. Considerando o número de suínos abatidos, projeta-se que o prejuízo seria em torno de US$ 5,5 bilhões de dólares, com perdas significativas para o país, que é o quarto maior exportador de carne suína do mundo. Ou seja, os dados reiteram a essencialidade do Affa ao reforçar a vigilância para evitar que a doença volte ao Brasil.

Mas a necessidade da presença constante de Affas nas áreas essenciais para o agronegócio frente à realidade sobre o quantitativo atual para atender a demanda nem sempre é uma conta fácil de fechar. Só no porto de Santos, o maior complexo portuário da América Latina, atuavam, em 2019, apenas 33 Affas do Vigiagro, representando uma redução de 29% em relação ao ano anterior, quando o efetivo era de 42 profissionais da carreira.

Para o presidente do Anffa Sindical, Janus Pablo, o risco desse patógeno exótico na América só reforça a necessidade da ampliação da atuação dos Affas por meio do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional. “Esse cenário de ameaça da PSA próximo ao Brasil vem reforçar urgente a carência de realização de concursos públicos para Affas, de maneira a fortalecer a nossa Defesa Agropecuária”, disse.

Ao falar do momento crítico e da necessidade de ampliação da vigilância, o professor Cristiano Barros de Melo endossa. “A questão dos voos internacionais, da necessidade de aumentar a vigilância na comida de bordo das aeronaves, das bagagens e dos produtos de origem animal nessas bagagens, bem como os resíduos alimentares e lixos de bordo nos navios, tem que ser minuciosamente checada para minimizar o risco de introdução de doenças como a Peste Suína Africana. O Ministério da Agricultura já vem conduzindo o trabalho e acredito que tenha indicadores para que possa se preparar mais ainda para esse tipo de perigo que já chegou nas Américas”, completou.

O especialista acrescentou que a situação é ainda mais desafiadora em virtude de o mundo estar vivendo o combate a outro grande agente infeccioso, que é o novo Coronavírus. “O Brasil tem que estar preparado e conduzir a situação da melhor forma”.

Sobre a doença – Segundo dados da Embrapa Suínos e Aves, a Peste Suína Africana é uma doença de notificação obrigatória aos órgãos oficiais nacionais e internacionais de controle de saúde animal, com potencial para rápida disseminação e com significativas consequências socioeconômicas. Ainda não existe vacina ou tratamento para PSA. Porém, o uso de técnicas laboratoriais, como as moleculares, é imprescindível para a confirmação do diagnóstico.

A PSA tem sido observada desde o início do século 20 no sul e leste africanos e inicialmente era caracterizada pelos aspectos clínico-patológicos semelhantes à peste suína clássica (PSC). Nestes surtos, a fonte comum de infecção foram restos de alimentos contendo produtos não cozidos, derivados de suínos, contaminados com o vírus.

 

 

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