Por: Virgínia Mendes Cipriano Lira*
Estamos vivendo um momento decisivo para reconhecimento da carreira de Auditores Fiscais Federais Agropecuários. Mas, principalmente, acredito que estamos diante de uma grande ameaça à segurança dos alimentos consumidos por nossa sociedade.
Na área da Produção Orgânica, lidamos principalmente com a Agricultura Familiar e lutamos para a implementação de políticas públicas que garantam a produção de alimentos seguros em todas as dimensões, para a saúde de quem produz e de quem consome.
Nossa ausência é danosa, por não estimular o crescimento da Rede de Produção Orgânica, mas também por facilitar que aproveitadores e fraudadores prejudiquem consumidores, assim como produtoras e produtores comprometidos com sua missão.
Somos importantes no nosso papel de servir!
Mas não estamos conseguindo cumprir nosso papel nas condições que temos.
Outras áreas do Ministério da Agricultura e Pecuária interferem na qualidade dos alimentos que circulam no país e no mundo. Atuamos na autorização do uso de insumos, na inspeção e auditoria da produção, no fomento à adoção de boas práticas e desenvolvimento de cadeias produtivas, em nossas fronteiras para circulação de produtos seguros pelo país e tantas outras interfaces, que alcançam a nossa mesa, a nossa segurança alimentar.
Mas essa importante entrega à sociedade não é valorizada e a cada período vivenciado, nos meus 17 anos de serviço público, presencio o sucateamento de nossas estruturas, o desestímulo aos servidores dedicados. O MAPA se faz ausente em discussões estruturais para o desenvolvimento do nosso país, no combate à fome e às desigualdades no campo, na defesa pela verdadeira sustentabilidade da produção agropecuária.
Por tudo isso e por verificar que estamos em um momento extremamente crítico, me uni a outros colegas e formalizei o processo de minha exoneração, na esperança que a entrega de cargos sirva ao movimento de mobilização e demonstre a nossa indignação com as decisões tomadas por esta atual gestão, frente às circunstâncias, ignorando responsabilidades graves perante a sociedade.
Responsabilidades que estão sendo dispensadas levianamente, a favor de grandes empresas, disfarçadas de resposta ao movimento sindical, que discute reestruturação de carreira.
Até onde vamos chegar?
Qual resposta a sociedade precisa receber?
Extinção desta carreira?
Por isso, a questão salarial fica em segundo plano, quando verificamos o estado deplorável da nossa estrutura física, principalmente nas Superintendências.
Um número cada vez menor de servidores, extenuados de trabalho, desestimulados, desrespeitados constantemente.
E a burocracia usada como ferramenta para garantir a ausência do Estado em atividades típicas, essenciais na defesa dos direitos constitucionais à alimentação saudável e segura.
Quando percebemos, cotidianamente, como nossa sobrecarga de trabalho é negligenciada pela alta gestão, nos questionamos quanto à nossa própria responsabilidade ou até mesmo nossa conivência com o estado das coisas.
Enfim, está a olhos vistos o caos, mas continuamos encontrando formas de entregar alguma coisa, de fazer o que for possível.
Colegas se entregam a horas extras não remuneradas, se dividem em inúmeras tarefas e findam realizando muito pouco perto da necessária entrega que gostariamos de dar.
Que nesta queda de braço, prevaleça o propósito deste serviço público!
Que algum dia, seja compreendido o papel do Estado em defesa dos direitos primários!
Que o serviço público seja valorizado pela nossa sociedade, como promotor de qualidade de vida!
*Virgínia Mendes Cipriano Lira é Auditora Fiscal Federal Agropecuária.
**Os artigos publicados não traduzem a opinião do Anffa Sindical. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos temas sindicais e de refletir as diversas tendências do pensamento.