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EMBRAPA e CEPLAC: Abraço de Afogados (II)

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A Unidade Mista de Pesquisa entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a EMBRAPA e a Comissão do Plano da Lavoura – CEPLAC, nasce numa atmosfera de carência de recursos, restrições à aquisição de equipamentos, suspensão de treinamentos no exterior, restrições às ações de apoio aos experimentos no campo e laboratórios e até de suprimento de mão-de-obra especializada em decorrência de aposentadorias, mortes e defecções voluntárias. A CEPLAC tem cerca de um quarto de século que não repõe seus efetivos, em menor tempo, também a EMBRAPA.

Apesar da CEPLAC e a EMBRAPA terem acumulado experiências exitosas no marco temporal definido – tempo que não volta jamais – a realidade não mantém a sua histórica relevância. Apresenta-se então a pergunta: tem a ideologia neoliberal, da economia de mercado, da proposta do Estado Mínimo, interesse em mantê-las vivas e pujantes? Uma resposta clara a essa premissa: na Amazônia, depois do cacau ter retornado às suas origens florestais pela CEPLAC nos anos setenta, quem comanda agora a economia cacacaueira, inclusive na formação de novos talentos e operários para as lides da lavoura, é o setor privado na via do SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas e o SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural, apostolados pelas Federações de Agricultura dos estados amazônicos produtores de cacau.

Do mesmo modo, vários “produtos-rei” do portfólio de pesquisa da EMBRAPA podem agora, caso acionados, serem conduzidos pela iniciativa privada: soja, carne, leite, frutas, entre outros que encantam ao “agro é tec, agro é pop, agro é tudo”. É possível, caber outra resposta: a CEPLAC e a EMBRAPA, continuam sobrevivendo, mas carentes de relevância estratégica como no passado.

Os agentes públicos presentes na Unidade Mista de Pesquisa, apresentaram propósitos ambiciosos e desprovidos de referenciais pragmáticos à sua operabilidade sobre as pessoas, materiais, estratégias efetivas e recursos financeiros para prospectar os revelados propósitos. Para o MAPA, o objetivo é “fortalecer a cacauicultura brasileira, incrementar a pesquisa e desenvolver novos clones, mais produtivos e resistentes às pragas. O início da retomada do Brasil como grande produtor mundial”. À EMBRAPA caberá “identificar as principais lacunas e potenciais oportunidades para alavancar a cacauicultura nacional”. Para a CEPLAC a expectativa é de “que o Brasil deixe de ser importador de cacau e amplie sua exportação de cacau fino, derivados e chocolate em prol da cadeia do cacau e da sociedade brasileira de forma geral”. Não foram reveladas as ações da única representação do setor produtivo presente na solenidade, a patronal Confederação Nacional da Agricultura – CNA. Algumas ambições, acomodam-se na retórica otimista, e respostas imediatas aos grupos de interesses, principalmente em situações de crises e negacionismo.

Nos anais da história brasileira, constam registros de organizações estatais extintas, com fartos exemplos no setor agropecuário, sem reações e contestações robustas da sociedade, até por que foram decisões legais oriundas do poder legislativo.

O diagnóstico das crises, anomalias e morte das organizações, são indispensáveis para a sua sustentabilidade e governança, sobretudo as públicas. Um profundo estudo dos ciclos dos monocultivos e suas organizações fomentadoras (cacau, café, algodão e cana-de-açúcar) vindas da economia colonial, marcado pelos rastros dos baronatos, capitães, coronéis e donos da terra, do desmatamento do bioma da Mata Atlântica, ambiente inicial das ações da CEPLAC, se faz necessário para pensar uma nova história organizacional. Qual o papel que ainda pode ser reservado ao Estado nessas contingências?

O suposto, é que nem mesmo a soma aritmética dos anos da CEPLAC + EMBRAPA = 112 anos serão capazes de alcançar os objetivos propostos nessa cooperação. O fundamental é compreender a real movimentação do agronegócio no país e no mundo, livres dos apanágios corporativos que terminam buscando soluções mágicas, retiradas das cartolas das grandes corporações estrangeiras, algumas mais poderosas que alguns países, na geração de emprego e renda, acumulação e modernização do mundo rural, entre outros.

As duas organizações estatais, estão em questionamentos sobre as suas inserções nas demandas do agronegócio brasileiro. A CEPLAC, no período pós-Constituição Federal de 1988, mostrou os primeiros sinais de declínio, quando comparado ao seu virtuoso passado. Diríamos que está “estiolada” e “desidratada” apesar das fortes chuvas do Sul da Bahia e do Pará. Pesquisadores bem treinados, reclassificados funcionalmente como “fiscais agropecuários” podem ser vistos nas plataformas de embarque de cacau no porto de Ilhéus.

 À EMBRAPA, os sinais de enfraquecimento não faltam e não são recentes. Nos últimos vinte anos, vem ocorrendo o contingenciamento dos seus dispêndios orçamentários e o deslocamento das demandas por resultados de pesquisa pela complexa produção agropecuária brasileira. Não é recente a desarticulação do seu programa de treinamento, a carência de aquisição de equipamentos estratégicos, os descuidos com os campos experimentais e os baixos indicadores da ciência, tecnologia e inovação, em publicações e patentes, particularmente, com as referências internacionais. “Por favor, Embrapa: acorde!”.

A sustentabilidade das organizações numa sociedade desigual estará comprometida quando algum desses fatores estiverem presentes na sua operacionalidade: gestão desconectada com a realidade, carência de cumprimento de metas robustas, baixa produtividade, afastamento progressivo da evolução do conhecimento, distanciamento das demandas locais, envelhecimento dos meios de trabalho e rendimentos incompatíveis com a unidade das “possibilidades versus as necessidades”.

Cabe torcer para que os alertas aqui mostrados, não sejam agouros, mas advertências e colaborações na perspectiva do êxito que o passado avaliza a ambas as organizações. Sem um efetivo diagnóstico organizacional para identificar as ameaças e falhas, a “boia salva-vidas” atirada ao mar para resgatar dois moribundos, não vai salvá-los. Um agonizando e o outro está deveras enfermo. Se a boia estiver furada, só resta o abraço dos afogados.

Manoel Moacir Costa Macêdo e Manoel Malheiros Tourinho são engenheiros agrônomos e respectivamente PhDs pela University of Sussex, UK e University of Wisconsin, USA.

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