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Após vinte anos de Ministério, Affas compartilham análises sobre conquistas e desafios

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Em 2022 completam-se vinte anos desde o concurso público realizado em 2022 para Fiscal Federal Agropecuário, como era nomeada a carreira, à época. 

Em razão disso, e no mês em que se comemora o dia do Auditor Fiscal Federal Agropecuário, o Anffa Sindical produziu uma série especial de matérias com AFFAs que ingressaram no Ministério da Agricultura naquela época e continuam contribuindo para o crescimento da carreira até os dias de hoje.

Muitos dos colegas ouvidos entraram no Ministério sem saber exatamente quais ações o Serviço Oficial desenvolvia, como explica a médica veterinária Hélia Lemos da Silva, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais ( UFMG) “Eu não conhecia muito sobre o Ministério da Agricultura e as ações que desempenhava. As ideias que nos passavam na faculdade sobre o MAPA eram muito centradas na atividade da inspeção. Assim mesmo, quando soube do concurso por meio de uma colega de faculdade, estudamos juntas até a data da prova, e no momento de escolher a área e local, optei pela Defesa Animal em Brasília.”

Emiliano Alves Junior, Médico Veterinário formado pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em 1998, e Especialista em Controle da Qualidade de Alimentos também pela UFLA, conta que seu ingresso no MAPA aconteceu também de maneira inusitada. “A ideia de prestar o concurso partiu da busca por uma oportunidade de emprego na época. Para dizer a verdade, nem mesmo sabia muito bem o que o MAPA fazia”, recorda. Ainda assim, tendo em mente que a condição de servidor público seria uma forma de contribuir positivamente para a sociedade, o veterinário seguiu em frente e dedicou-se ativamente aos estudos para o certame. 

Situação ainda mais peculiar foi a do engenheiro agrônomo Ricardo Zanatta que, depois de formado, sem muitas expectativas de emprego, começou a estudar para diversos concursos, inclusive fora de sua área de formação. Ele conta que foi chamado para trabalhar como Técnico Bancário na Caixa Econômica Federal,onde atuou por cerca de seis meses e como Escrivão da Polícia Civil do Distrito Federal também por cerca de seis meses, até que finalmente foi convocado para trabalhar no MAPA.

“Um pouco insatisfeito com o tipo de trabalho na PCDF, comecei a ficar em dúvida sobre qual decisão tomar: ficar no emprego atual, ganhando o dobro; ou ir para outro emprego para ganhar metade, mas trabalhando em minha área de formação. Após muito ponderar, e consultar futuros colegas AFFAs, que falaram das possibilidades de evolução da carreira, acabei decidindo tomar posse como AFFA e trabalhar na área de formação, mesmo com a perda salarial. Felizmente foi uma decisão sem qualquer tipo de arrependimentos”, avalia satisfeito.

Se por um lado havia colegas incertos sobre onde atuar, outros tinham essa convicção desde a universidade, como a médica veterinária Maralice Cotta, atualmente lotada na Secretaria de Defesa Animal, em Brasília. “A vontade de ser servidora do MAPA vinha desde a época da graduação e isso me motivava. Fazia 20 anos que não havia concurso e, uma vez aprovado o certame em 2002, me dediquei aos estudos todos os dias, à noite e nos finais de semana.”

Álvaro Bavaresco, médico veterinário lotado no laboratório de controle de vacinas contra a febre aftosa do Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA/RS) é um exemplo de atuação especializada ao longo dos anos. Tendo trabalhado por toda a sua carreira no LFDA/RS (antes LARA/RS e LANAGRO/RS). 

“Foi aberto um concurso em 2001 para FFA em caráter temporário. Ele seria válido por 2 anos, mas ao final do primeiro ano ocorreram casos de Encefalopatia Espongiforme Bovina, mais conhecida como Doença ou Mal da Vaca Louca, e durante  uma missão do Canadá ao Brasil, o ministro da Agricultura da época – Pratini de Moraes – disse que um concurso para fortalecer o MAPA já estava planejado. Eu passei nesse concurso temporário, portanto sou FFA desde 2001, logo após passei novamente no certame de 2002 e segui no cargo.”

Marcus Burgel Sffogia também iniciou sua trajetória como profissional contratado devido à sua experiência em análises laboratoriais. Assim, foi convidado a trabalhar no LARA-RS (atual LFDA-RS), na área de controle de vacinas contra a febre aftosa. Quando soube do certame, Marcus viu a oportunidade de integrar o quadro permanente do MAPA e continuar atuando no laboratório de Porto Alegre, assim dedicou-se aos estudos e obteve a aprovação desejada.

Fato é que mesmo sem saber ao certo quais possibilidades profissionais se abririam, sonhando com a carreira do Ministério, ou ainda escolhendo entre vocação e remuneração, todos os AFFAs possuíam os mesmos anseios: contribuir com suas experiência para bem servir à sociedade.

AFFAs relembram trajetória de desafios e oportunidades 
 

“Sou totalmente realizada nesta Secretaria”, conta Maralice que desde 2002 está lotada na SDA e de volta à sua cidade natal, Brasília. “É sensacional saber que contribuo com meu trabalho para que produtos veterinários de qualidade cheguem aos consumidores. Saber que agentes biológicos infecciosos estão sendo manipulados de maneira segura, tendo em conta a potência que o Brasil possui em rebanhos e plantéis e que é um patrimônio a ser mantido para garantir o consumo interno e o mercado das exportações de nossos animais e produtos. Ao final, a manutenção da saúde dos animais e do homem e ainda do meio ambiente são o objetivo do nosso trabalho”, avalia.

Maralice recorda-se de seus primeiros mestres, os colegas Cesar Rozas, Ricardo Pamplona, Gilfredo Darsie, Hiromi Arita e Massami Nakajima e como era rotina de trabalho dos recém chegados ao MAPA. “Como eu me identifico muito com questões da Qualidade, eu os ajudava muito na organização, além da execução das fiscalizações. E eles eram muito generosos em me ensinar as questões técnicas. Era o chamado treinamento em serviço.” Nesse sentido, a veterinária Hélia Lemos também avalia que teve bons preceptores, pacientes ao ensinar e dispostos a aceitar as argumentações e novas proposições dos novos Fiscais Agropecuários.

Marcus Sfoggia, por sua vez, conta que desde seu ingresso no MAPA, trabalhou na área de controle de vacinas contra a febre aftosa. Segundo ele, ao longo desses vinte anos inúmeros desafios foram apresentados e superados: “Implantamos o controle sistemático dos três vírus que compunham a vacina, implementamos novos testes, auditamos os laboratórios produtores de vacinas no Brasil e no exterior, detectamos fraudes, participamos de comissões de biossegurança e de Bem estar animal, tornamos o laboratório do LFDA-RS referência na área, ministramos cursos no PANAFTOSA e em laboratórios oficiais em outros países, entre outros”, orgulha-se. 

Álvaro Bavaresco, que inicialmente atuou no laboratório de microbiologia de alimentos está, desde 2000, no laboratório de controle de vacinas contra a febre aftosa. Atualmente é coordenador da CEUA – comissão de experimentação e uso de animais – do LFDA/RS. 

“Me sinto muito bem por ter escolhido esse caminho profissional. Minha atuação e de meus colegas fez e faz diferença, especificamente no PNEFA, pois o trabalho de controle das vacinas contra a aftosa ajudou a garantir que os focos da doença não mais existissem e permitiram ao Brasil conseguir o status internacional de livre de febre aftosa sem vacinação”, pondera. 

Ao ser questionado sobre uma situação marcante de sua carreira, ele rememora a transferência de milhares de ampolas contendo o vírus da febre aftosa de Porto Alegre para Minas Gerais, em 2010 (foto). 

“Todas as amostras de vírus da febre aftosa, o cepário, estavam armazenadas na área de biossegurança da fábrica de vacinas da Bayer, localizada em Porto Alegre. Com a desativação da fábrica, essas amostras infectantes de vírus precisaram ser transferidas para o Lanagro/MG, que havia construído um laboratório NB4. Assim, juntamente com o colega Alberto Knust e o veterinário Gilfredo Darsie (já falecido e funcionário do Panaftosa) realizamos o inventário, catálogo, inutilização de amostras, embalagem, acondicionamento e transporte de todo esse material. O trabalho demandou quase uma semana. Realizamos o transporte em um avião da FAB dedicado para essa missão. Embarcamos todas as amostras em Porto Alegre, as acondicionamos em segurança e armazenamos novamente o material no interior da área biossegura do Lanagro/MG, onde está até hoje” informa satisfeito. 

Ele finaliza homenageando um de seus mentores, o Dr. Carlos Rafael Sfoggia, médico veterinário já aposentado e coordenador do laboratório de Porto Alegre por mais de 20 anos. “Foi ele quem me convidou para trabalhar aqui e sempre me deu respaldo técnico, material e incentivo para esse trabalho de fiscalização. Ainda hoje mantemos contato.”

Perspectivas
 

Os colegas ouvidos pelo Sindicato pontuam que ao longo desse período muitas mudanças aconteceram, e com elas, os desafios a superar.

“A evolução tecnológica da indústria veterinária é fantástica e nos esmeramos em realizar um trabalho de fiscalização à altura, visando sempre os objetivos da defesa agropecuária. Já a evolução digital tem sido avassaladora, embora muitas vezes não acompanhada pela necessária evolução no âmbito da TI em nossos sistemas e rede de internet”, analisa Maralice.

Ela celebra ainda a implantação do BI dos produtos veterinários, uma ferramenta composta por paineis que facilitam o acesso a informações atualizadas sobre estabelecimentos e produtos de uso veterinário registrados no país e que podem ser acessados tanto pelos consumidores, como pelos agentes de fiscalização, mas destaca: “A Meritocracia também seria benvinda, com planos de trabalho e cronogramas bem definidos para quem pleiteia os cargos. Plano de ascensão na carreira também faz falta.”

Para Emiliano, a evolução ao longo dos anos foi enorme. “Lembro que no início precisávamos dividir um computador com cinco pessoas e a internet era liberada somente no horário do almoço. Todos os processos eram em papel e não tínhamos tantos sistemas de controle, era todos feitos em planilhas. Podemos não ser referência em tecnologia, mas, com certeza, a evolução de 2002 para cá é notável e nos auxilia a desenvolver nossas ações de uma maneira mais eficiente”, avalia.

Álvaro corrobora essa análise ao relembrar da migração de todos os processos, registros, formulários, comunicação interna e reuniões, atualmente muito facilitadas pela tecnologia disponível.

Em relação aos desafios, Hélia considera que sempre haverá obstáculos a superar. “Todos os dias são de aprendizado. Seja no conhecimento de legislações, no campo de atuação dos AFFAs, em relação à ética no serviço público, às novas tecnologias e sistemas, ao desenvolvimento de outras habilidades, ou mesmo, na arte de saber se relacionar com os colegas.”

Ricardo Zanatta, que atuou durante 19 anos no Serviço Nacional de Proteção de Cultivares (SNPC) considera que todo esse período no MAPA, lhe foi proveitoso pois pôde colocar em prática os conhecimentos adquiridos na universidade e conhecer diversos profissionais que admirava e informa orgulhoso a mais recente mudança em sua carreira: “Há alguns meses, tive o privilégio de ser selecionado para ocupar o posto de Adido Agrícola em Seul, Coreia do Sul, o que tem me proporcionado um aprendizado diário sobre a importância e a complexidade das atividades do MAPA, muitas delas desenvolvidas por colegas AFFAs de extrema competência. Trabalhar no MAPA proporciona uma enorme integração com todas as evoluções da agropecuária, o que é muito empolgante”, avalia.

Diante de tanta evolução, os Auditores Fiscais Federais Agropecuários compartilham com os colegas o que os move a continuar empenhados em suas funções e deixam mensagens para os próximos colegas que virão.
 
“Pessoalmente levanto todos os dias querendo fazer a diferença, prestar um bom serviço”, inspira Maralice. “Há muito a ser feito e acredito que nos questionar diante das tarefas rotineiras pode fazer sim, a diferença. O que fazemos e que pode ser abolido ou simplificado por ser essencialmente burocrático? Há um risco nessa mudança? Qual o impacto? Tenho claras as minhas atribuições? O que devo priorizar? Como organizar meu tempo? são algumas dessas análises que precisamos ter em conta.”

Além disso, ela defende que o AFFA precisa ter ciência do processo como um todo e não apenas de sua parte do processo, para saber das interrelações com outras áreas. Saber o contexto onde está inserido, entender como outros países tratam do mesmo tema, ter argumentos para propor mudanças de forma robusta e mais. “E como gestor, eu deixo claras as metas e atribuições de cada um, qual a melhor forma de apoiar e motivar minha equipe, como monitorar se as atividades estão sendo desempenhadas conforme o planejado e se não, por quê?”, incentiva.

Para Marcus Sfoggia a identificação com a atividade de fiscalização e o prazer pelo trabalho que desempenha é o que o estimula a prosseguir mesmo com os revezes.
E deseja que os colegas possam agregar, cada vez mais, atividades práticas à rotina laboratorial, conciliando-as com todas as atividades documentais. “Que sejam propositivos e não esperem que as coisas aconteçam ou cheguem prontas para eles e não fiquem restritos somente às atividades da sua função.”

Alinhado ao pensamento dos colegas anteriores, Emiliano Junior também partilha do sentimento que tem pela profissão. “Minha motivação parte do amor que tenho pela agropecuária e o fato de entender que o trabalho dos AFFAs é essencial para a segurança alimentar e segurança do alimento de todos os brasileiros e de milhares ou até de milhões de pessoas no planeta. Entendo ser necessário que todos os colegas AFFAs abram a mente e conheçam todo o processo em que estão envolvidos, que saiam da sua caixinha regimental e tenham ciência de como funciona a defesa agropecuária, as negociações internacionais, a parte de desenvolvimento sustentável ou as demais áreas de atuação da carreira.”

“Também considero necessário perceber que os AFFAs têm a possibilidade de desenvolver muitas atividades aqui no MAPA, e não especificamente em uma única Secretaria, eu sempre brinco que nós podemos até ir para o espaço, mas muitas vezes nos encolhemos e restringimos a nossa própria atuação a um único tema”, analisa. 

Quando questionado acerca da necessidade de valorização pela qual a carreira luta, Emiliano é categórico. “Mesmo que não tenhamos toda a valorização que entendemos que nos é de direito, temos que continuar lutando, unidos, assim como fizeram aqueles antes de nós que brigaram  pela criação do que hoje é a carreira de AFFA.”

Em uníssono com a avaliação de Maralice ao dizer que “os desafios sempre existiram e não podem deixar de existir, pois eles nos movem”, Hélia considera que os bons profissionais e servidores comprometidos sempre buscarão a valorização da técnica, do profissionalismo e da ética e estima aos colegas que ainda ficarão na carreira por mais tempo, que possam cultivar esse senso de compromisso. E aos novos AFFAs que vierem, que possam ser orientados em temas que desconhecem, não só para se assegurar da integridade no exercício da sua função, mas também para garantir a excelência da técnica que venham a desempenhar.

Zanatta e Bavaresco também se unem ao coro dos colegas que se sentem estimulados a prestar o melhor serviço possível para a sociedade e realizar um trabalho de excelência dentro do Ministério. E por fim, Zanatta sintetiza: “As peculiaridades do serviço público podem ser tentadoras para que nós nos acomodemos, mas nunca podemos parar de buscar conhecimento e de evoluir profissional e tecnicamente.”

Confira abaixo algumas imagens gentilmente cedidas pelos colegas que ilustram um pouco de suas trajetórias.


 

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