A força de trabalho que impulsiona o agronegócio no Brasil

Estudo da FGV mostra que, sem o trabalho dos auditores fiscais federais agropecuários durante a pandemia, perdas seriam de mais de R$ 25 bilhões

Por Janus Pablo Fonseca de Macedo*

No ano em que a economia brasileira foi gravemente atingida pela pandemia, em 2020, o PIB do agronegócio respondeu por 26,6% do PIB brasileiro, correspondendo a 2 trilhões de reais — maior valor desde o início da série histórica, em 1996, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Importante destacar que o agronegócio é, individualmente, o setor mais relevante da economia brasileira, tendo importante papel na geração do produto interno bruto (PIB), no mercado de trabalho e nas exportações do país.

Nesse período, em que todas as nações foram testadas, do ponto de vista econômico-financeiro, sob efeitos da covid-19, o agronegócio respondeu por 48% das exportações brasileiras, totalizando a quantia de 100,7 bilhões de dólares, em 2020. O valor exportado pelo setor, em plena pandemia, foi o segundo maior de toda a série histórica, de acordo com o Cepea, ficando atrás somente de 2018, quando o setor cravou a quantia de 101,2 bilhões de dólares.

Esses números impactantes, que elevam positivamente o peso do agronegócio como fomentador da economia do Brasil, especialmente durante a pandemia, sinalizam que o país conseguiu evitar situações graves, relacionadas ao abastecimento de alimentos, por exemplo. Mais que isso. Por trás desses percentuais e cifras robustas há um claro indicativo do potencial da força de trabalho que move a roda da agroindústria brasileira, constituída por atividades essenciais, que evitaram o desabastecimento de alimentos.

Pesquisa realizada em maio deste ano, pela Fundação Getulio Vargas (FGV), registra que em 2020, devido ao trabalho dos auditores fiscais federais agropecuários (affas), que atuam diretamente na inspeção de produtos de origem animal e vegetal, nas certificações para exportação e ingresso de produtos nas aduanas, alfândegas, o Brasil não ficou exposto a riscos de ordem sanitária ou fitossanitária maior. Esses profissionais permaneceram em plena atividade, mesmo com a alta demanda do agronegócio e as limitações impostas pelas medidas de restrição para conter a covid-19.

De acordo com a pesquisa da FGV, caso essa categoria não tivesse se mantido tão ativa na pandemia, os grandes setores mais impactados seriam a agricultura e a agroindústria, sendo que as perdas para a agricultura chegariam a 25,7 bilhões de reais, e para a agroindústria atingiriam 17,9 bilhões de reais.

Exposta assim, em números, a atuação dos affas se reveste de enorme força e, mais ainda, quando esse potencial de trabalho se soma ao histórico da atividade que muitos ainda desconhecem, mas que é exercida há mais de 150 anos. No entanto, a carreira foi oficialmente criada em 2000, composta de engenheiros agrônomos, farmacêuticos, químicos, médicos veterinários e zootecnistas, todos servidores de carreira do Ministério da Agricultura, responsáveis por garantir qualidade de vida, saúde e segurança alimentar às famílias brasileiras.

Esse registro é relevante e necessário diante do momento delicado vivido pelo Brasil e o mundo, com as várias dificuldades trazidas pela pandemia, entre elas, a de exercer plenamente essa atividade que requer presença em portos, aeroportos, postos de fronteira, nos campos brasileiros, nas empresas agropecuários e agroindustriais, bem como nos laboratórios, nos programas agropecuários, nas cidades e nas relações internacionais, por meio dos adidos agrícolas.

Mesmo ativa nesse período, parte da categoria teve de aderir ao teletrabalho por estar no grupo de risco da covid-19. É o caso de mais de 100 auditores da Secretaria de Defesa Agropecuária, acima de 60 anos, de um total de 1.697.

Para muitas atividades, o legado dessa crise sanitária, possivelmente, será a consolidação de alguns serviços que continuarão a ser realizados remotamente, bem como a automatização de determinadas funções. Esse cenário adverso também expôs a necessidade de contratação de novos affas, visto que a carreira tem quadro funcional cada vez mais reduzido, em contraste com as demandas do agronegócio brasileiro, que só aumentam e exigem mais e mais desses servidores e de outras categorias associadas ao agro.

É essa força de trabalho dos affas, com participação de outros tantos profissionais da cadeia produtiva do agro, que mantém a segurança alimentar no Brasil.

O feito, realizado apesar da carência de 1.620 auditores, é louvável. No entanto, hoje há o enorme risco deste déficit de mão de obra comprometer o avanço de importantes programas em desenvolvimento no Brasil, como o de erradicação da febre aftosa sem vacina; da peste suína africana; de controle da qualidade e segurança dos insumos agropecuários, como fertilizantes e outros, bem como o monitoramento do risco sanitário e fitossanitário das produções e o controle da segurança dos produtos finais, evitando danos à saúde do brasileiro; à sustentabilidade do meio ambiente e ao equilíbrio econômico-financeira do país.

*Janus Pablo Fonseca de Macedo é presidente do Anffa Sindical (Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários). É auditor fiscal federal agropecuário, graduado em farmácia, com habilitação em indústria de medicamentos

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.

 

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